sábado, 23 de janeiro de 2010

22-01-2010 22:00 o acidente

Foto: Joana Wagner

Sexta-feira, mau presságio, o dia foi duro.

Começou logo de manha com uma sessão formal de algo que por motivos que não vou explicar, não vou pormenorizar aqui. À tarde, responsabilidades que não estava pronta a assumir, com dificuldade acrescida, motivos e motivos que desequilibram todo o meu sofisticado sistema de sobrevivência.

Ao fim da tarde o dia ia finalmente começar a melhorar. Reunião de jovens na igreja, os jovens passariam a noite lá. Eu, por ter recital no dia seguinte, voltaria para casa à meia-noite. Um pequeno percalço, eles chegaram ao local combinado, entrámos na carrinha e arrancámos. A carrinha estava a fazer a volta do costume para ir buscar os jovens. Depois de Algés seguiu para Paço de Arcos, por fim Leceia e, com todos a bordo, a paragem seguinte seria a igreja.

Não foi da vontade de Deus que chegássemos à igreja naquela carrinha. O que vou contar a partir daqui passou-se a uma velocidade alucinante, tão alucinante que ainda não percebi bem como tudo aconteceu. Para ser franca, o único motivo que me faz estar a escrever este texto é a necessidade de organizar as ideias e perceber bem o que se passou, para parar de pensar no assunto. Estávamos numa estradinha sem iluminação no meio de nada algures entre Leceia e Carcavelos. A estrada tinha muitas curvas, pouca visibilidade e aproximámo-nos de uma subida. A carrinha é velha, só conseguiria fazer a subida se fosse com alguma velocidade logo de início. Fizemos a descida anterior de forma a ganhar velocidade para fazer a subida, mas a estrada antes da subida, na curva, estava molhada. A carrinha não conseguiu fazer a curva, derrapou, bateu contra um muro e foi parar largos metros à frente, em contra mão. No interior, nós íamos a conversar e rir, não nos apercebemos do perigo, só dois dos jovens perceberam que íamos ter um acidente. O embate foi totalmente inesperado, e como a carrinha não tem cintos de segurança atrás, defendemo-nos cada um como pôde. Éramos 10 pessoas dentro da carrinha, gente a mais, e isso protegeu-nos. Funcionámos quase como cintos de segurança uns para os outros. Quando a carrinha parou, começaram as perguntas:
- Estão todos bem?
- O que é que aconteceu?
- Nós podíamos ter morrido!
- Podemos sair daqui?
- Eu só quero sair daqui, chegar à igreja.

Estávamos preocupados por estarmos no meio da estrada em contra-mão e com pouca visibilidade, algum carro podia bater-nos. Tirando um dos líderes, que estava no local do embate e ficou com um pé magoado e alguns cortes na cara, ninguém estava ferido, um autêntico milagre. Um carro da policia estava a passar por ali, viu-nos e parou. Ficámos desde então protegidos contra outro embate, e assim mais seguros. Abriram a porta da carrinha, deixando-nos sair. Rapidamente chegou uma ambulância e o pai de um dos jovens, que começaram a tratar de tudo. O pai em questão levou os seis que estavam bem para a igreja, e os bombeiros levaram um jovem menor para o hospital S. Francisco Xavier, e eu mais outro jovem e o nosso líder para o hospital de Cascais. Graças a Deus, ninguém teve ferimentos de maior. Um inchaço aqui, uma nódoa negra ali, um corte ou outro, ficámos todos bem. A carrinha era velha, não tinha cintos, o nosso líder ficou com vestígios do muro no casaco, ele próprio bateu no muro, avançámos bastante antes de parar e o que houve foram quatro feridos ligeiros. A ajuda chegou quase imediatamente, apesar dos nervos e de sermos todos muito jovens, foi possível manter a cabeça fria, tudo isto serviu para nos unir mais enquanto grupo. Hoje encaramos a vida com outra atitude. Falando por mim, sinto-me grata a cada momento por tudo ter sido assim, porque estamos todos bem, por cada momento bom, cada dia em que acordo, tudo o que tenho e nem reparo, porque ‘só damos valor às coisas quando as perdemos.’ Agora, se vou viver com medo a partir de agora? Nem pensar! Isto fez-me acordar para a vida, aproveitar cada momento, viver tudo mais intensamente, fez-me perceber o que é realmente importante para mim, fez-me sentir protegida. Porque naquele momento, muitas ‘coincidências’ contribuíram para que nada de grave nos acontecesse. Hoje dou valor aos pormenores, às coisas simples da vida a que nos acomodamos e habituamos, esquecendo-nos de que há quem não tenha nem metade. Hoje sinto que nada me pode prejudicar, eu sabia que estava protegida, mas nunca tinha experimentado esta protecção de uma forma tão directa.
‘Que diremos pois a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?’ Romanos 8.31

Dedicado às dez pessoas que iam na carrinha quando tivemos a nossa segunda oportunidade de viver realmente, marcar a diferença, não ser apenas mais uma pessoa normal, vivendo apenas mais um dia normal.

1 comentário:

PêPê disse...

eu tava la... ta fixe o texto ;)
realmente muitas coincidências...
eu fiquei a olhar o tempo todo :O devo ser maluco xD