segunda-feira, 17 de novembro de 2008

.silêncio

Foto: Verónica de Sousa

Começa um novo dia
Antes não tivesse começado.
Desapareceu a ousadia
e procuro a alegria
em mais um sonho estragado.
Tapo os olhos para não ver os seus gestos
Tento ensinar algo em que sou aprendiz
É agora recordação o que outrora foi audível
Procuro ao viver atingir o impossível
Esforço-me para não perceber o que o seu silêncio me diz.
Durante anos esperei pelo fim
Esperei e desesperei, sob o seu rugido ensurdecedor
Esperei e abdiquei do que em tempos desejei para mim
Esperei e aceitei continuar a viver assim
Abdiquei dos meus sonhos por já não suportar a dor.
Na abundância de som desejei o silêncio
antes não o tivesse desejado.
Hipocritamente escondido, ele apenas consome
Na abundância de alimento, ele faz-me sentir fome
Liberto-me, presa por um grito sufocado
Escrevo um poema que não faz sentido.
Desejo ouvir uma palavra de esperança
ou simplesmente uma palavra vinda de um amigo
apenas uma palavra, de quem se preocupa comigo
"coragem, irmã. depois da tempestade vem a bonança"
Ao afogar-me no silêncio da ditadura
desisto de um sonho que outrora sonhei
Passeio sozinha em ruas de amargura
No fim, o que mais me tortura
é o silêncio que tanto esperei.