segunda-feira, 14 de setembro de 2009

.olho da tempestade

Bonança? Era bom!
Tudo é uma provação
Todo o enredo desta ilusão
A diferença entre surdez e ausência de som
A importância de cada decisão
A tempestade parou por um momento
E muitos já abandonaram a fortaleza.
Posso apenas observar com tristeza
O regresso do vento
A esta cidade indefesa.
É tão triste vê-los sorrir
Diante da sua perdição
Não aguentaram a provação
Têm as vidas a ruír
E perdem-se por completo na agitação
Fogem da sabedoria
Quero ajudá-los, mas esmoreço
Quero abandonar o abrigo, mas permaneço
Eles não sabiam o que a tempestade lhes traria
'Tudo na vida tem um preço'
Desesperam na sua ingenuidade
Um aqui desiste
Outro ali persiste
A calmaria era o olho da tempestade
Vejo que por todo o lado o pânico subsiste
É aterrador, todo o panorama
Tudo lá fora está imundo
Sinto sofrimento neste cheiro nauseabundo
Vejo a destruição de uma cidade de boa fama
Aqui e ali, um desgraçado moribundo
O outrora belo, que a desgraça a destroços resume
Muitos foram iludidos pela tempestade 'parada'
Muitos perderam a vida na reentrada
Uma bela cidade que perdeu o seu perfume
Por uma tempestade que ainda nao estava acabada
A vista fora do abrigo é atroz
O estado da cidade é decadente
Tenho que estar em alerta permanente
A esta tempestade feroz
Que destrói corpo e mente
Preciso de sabedoria para me manter no abrigo
Preciso de coragem e paciência
Para saber ver para além da aparência
Sei que há quem se preocupe comigo
E não hei-de perder a minha essência
Mas, se vejo a luz ao fundo do túnel?
Como??
Eu nem sequer vejo o fim do túnel!
A importância de cada decisão
A diferença entre surdez e ausência de som
Todo o enredo desta ilusão
Tudo na vida é uma provação
Bonança? Era bom!

terça-feira, 18 de agosto de 2009

.esperança


Não me atrevo a dizê-lo, criando uma ânsia interior
Talvez pela dor, ou pelo medo que me invade
Talvez por já nem saber onde está a verdade
Sento-me no chão, abafando o silêncio do meu clamor
Mesmo não o dizendo, sei que chegou a tempestade
Tento acreditar que não sei o que se passa
Finjo não perceber o que o seu silêncio me diz
Crio uma melodia, uma tentativa desesperada de existir
Quebro assim o silêncio, como um corpo que uma faca trespassa
Ganho coragem, escrevo, faço algo que nunca fiz
Confio-Lhe a minha vida, para onde Ele for eu irei
Percebo que a vida não está só nas palavras
Há muita vida nos momentos de silêncio
Cada pausa é importante na composição da melodia
Ultrapassar a pausa mostra força e ousadia
Depender dEle dá-me força e segurança
Ganho sabedoria e coragem, ganho esperança
Vivo um 'sou, faço' e não um 'seria, faria'
Sei que nem tudo está perdido
Afinal, as flores abrem a cada novo dia.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

.debaixo dos destroços

Faz-se silêncio.
Será que acabou?
Afogada em dúvidas
E sem a capacidade de duvidar,
Respiro incerta a certeza de que tudo parou.
Não há o mais leve oscilar.
Penso e existo devagar
Sem pressa, sem preocupações,
Tudo está dependente de decisões
Que não me cabe a mim tomar.
Agora é certo,
A tempestade passou.
Acabou, finalmente, o que outrora esteve tão perto.
Resto eu, soterrada, num sítio deserto,
Debaixo da minha vida, que com a tempestade desabou.
Não sei onde estou
Não me consigo mexer
Não sei o que fazer
E desisto do que sou
Porque sou apenas o que não quero ser.
Recordo.
Cada momento de felicidade que nunca existiu
Cada refeição e o silêncio à volta da mesa
Cada grito, cada gesto nesta discussão sempre acesa
Cada promessa por cumprir nesta mentira que nos consumiu
O conformismo vergonhoso. Até o gigante fugiu!
A vontade de lutar de uma criança indefesa.
Recordo.
Os "tais" velhos tempos
A minha busca incansável pela ataraxia
A crença cega numa utopia
No eterno parar dos ventos
Num momento de cortesia
Num momento que ultrapassa os "tais" momentos
Mesmo sem acreditar que esse momento chegaria.
Recordo.
O outrora sorriso meu;
Distantes, abraços nossos
Num mundo apenas meu e teu.
Agora, o meu corpo,
Pouco mais que pele e ossos,
Morre na mentira em que sempre viveu
E quando o sofrimento enfim o esqueceu,
Jaz e repousa debaixo dos destroços.
E faz-se silêncio.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

.mensagem numa garrafa

Estive meses naquela gaveta, à espera de ser escolhida
Cada dia Ele a abria, e tirava outras folhas,
Olhava para mim e dizia ‘Ainda não está na hora.’
Eu queria tanto começar a minha vida!
Poder sair, ter opinião, fazer escolhas,
‘Mas, Pai, porque não me tiras agora?’
‘Cada coisa a seu tempo’, e fechava a gaveta.
Todos os dias, o mesmo ritual
Um acto único que se tornara banal
O virar infinito da ampulheta
Numa eterna realidade surreal
Certo dia, tal como em todos os outros, senti a gaveta abrir
Pude ver novamente a Sua brandura
Mas algo estava diferente,
Com Seu olhar meigo, repleto de doçura
Impediu a minha tentativa de me abstrair
E tirou-me de dentro daquela armadura.
Carinhosamente, pousou-me debaixo do velho candeeiro
Só então percebi ser uma folha sem mensagem
Escreveu em mim, encheu-me de coragem
Prometeu ser O meu companheiro.
E preparou-me para a viagem.
‘Mantém-te firme, confia em Mim
Quem te encontrar, reconhecerá a minha caligrafia
Desta tonalidade quente, carmesim’
Não sabia se seria sempre assim
Mas certamente iria lutar para viver, dia após dia.
Pegou numa garrafa, e lá me acomodou
‘Fica aí dentro até chegares ao teu destino.’
Atirou-me ao mar, como passageiro clandestino
A escuridão do sótão acabou
Passei a viver num azul cristalino.
Havia apenas uma coisa que eu não sabia
A viagem não fora pensada à minha maneira
Ele ter-se-ia enganado, ao me achar aventureira
As ondas eram grandes, a garrafa quase partia
Decidi sair, e escolher a minha própria carreira.
Sozinha em alto mar, não escapei à tempestade
Cada onda me estragava mais, a minha tinta desapareceu
‘Agora ninguém vai poder ver o que Ele em mim escreveu’
Não era esta a minha vontade!
Tropecei e cai na primeira adversidade
Não percebo porque é que Ele me escolheu.
Ao tentar reescrever as palavras
Apenas me magoei mais
Às tantas tinha cicatrizes tais
Que nem a minha dor era legível
A minha existência tornara-se impossível
Vivera tempo demais.
Arrependi-me de ter saído da garrafa
Arrependi-me de não ter confiado
Tudo o que fiz foi errado
Agora tudo acabou. Desisti.
Experimentei a segurança que durante anos esqueci.
Fiquei apenas inerte, esqueci-me do tempo.
Deixei as minhas angústias serem levadas pelo vento
Vento esse que optou por me enganar
E mostra agora toda a verdade,
Pondo de lado a falsidade
Que estava habituado a usar.

Não falo, não tenho significado
Não corro qualquer risco
Sou um pedaço de papel abandonado
Eternamente marcado pelos erros do passado.
O tempo passa, praticamente não existo.
Mas sem que eu espere, ouço a sua voz
Sonho com a protecção do sótão,
Contentar-me-ia com uma casquinha de noz
Sou apenas o resultado da minha falta de gratidão.
Com o Seu amor de Pai,
Ele encontra-me, oferece-me perdão
Restaura-me, com uma tinta que não sai
Envia-me novamente, na minha jornada
Desta vez obedecerei.
Por amor do Seu nome, sem condições confiarei
Já não temo as ondas, o vento ou a trovoada
Viajarei, firme até ao dia da chegada
Viverei para o meu Pai, meu Salvador e meu Rei
E se alguma vez a tribulação me roubar a alegria
Continuarei no Seu plano divino
Agradecerei pela garrafa que me protege
Seguirei sempre com ousadia
Confiarei no líder que me rege
Hei-de chegar ao meu destino
Pois ‘Não haverá atraso de um só dia.’