sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

.pausa

Ás vezes o tempo pára.
Numa íntima e ínfima fracção de segundo
Que ficticiamente se multiplica
E acaba como começou, despedindo-se: 'Adeus, minha cara.'
Caminho pelos segredos que esta noite suplica
E descanso, fascinada com este novo mundo

A realidade volta e engole o que sonhei
Encaixo-me no que sou,
Retomo o que estava a fazer
Vivi (tanto) o sonho que criei
Existo sem me compreender
E sei que nem um segundo passou!

Tantas queixas e lamúrias, que viver é complicado
Tentei dançar o tango ao som de uma valsa
Tentei, não tendo salsa, temperar com azevinho
No fundo sou eu quem não deixa ir o passado
É verdade que não fui eu a pôr os vidros no caminho
Mas fui eu que rejeitei os sapatos e escolhi caminhar descalça.

Encaro agora a realidade que escolhi
Dificultada quando a minha fé foi posta em causa
Caminho mais devagar, retardando a chegada
Quase sem tocar no chão, tenho que confiar em Ti
De volta à batalha, desembainho a minha espada
Quero combater o bom combate... vemo-nos na próxima pausa.

domingo, 1 de agosto de 2010

.amazing grace

Foto: Hugo Moura

Amanheceu cedo depois do tardio anoitecer. Foi então clara a óbvia e significativa diferença entre o primeiro amanhecer delas e o meu terceiro amanhecer. A euforia histérica e sufocante destas crianças pela dimensão da bênção que é uma semana fora de casa traz-me um sorriso que me incapacita para a repreensão.
- Meninas, amanhã fazemos assim. Se vocês acordarem antes de nós (especialmente, se vocês acordarem antes do nascer do Sol), não façam barulho, para que o resto das pessoas na tenda possam dormir mais um pouco.
E é assim que começa o dia, bem antes do planeado. Sem tempo para ocultar sob uma considerável camada de base as olheiras com que até eu me assusto, enfrento o mundo quase corajosamente após um rápido banho de água fria. A vida corre, acelerada, atropelando cada segundo desta terça-feira. Acordar as crianças, contar se estão todas presentes,  servir as refeições, limpar o refeitório, ouvir e acompanhar as histórias de vida mais aterradoras, vidas que já viveram mais do que deviam, muito mais do que deviam. Vidas de 6 anos que já viveram e experienciaram mais que a maioria das vidas adultas. Com alguns líderes fora em compromissos e um teatro para preparar, deixamos as crianças quase por sua conta durante um pequeno espaço de tempo em que muitas coisas correm mal, sob a nossa responsabilidade. Chega a ponderar-se o cancelamento do teatro pelo avançado da hora, e acabamos a decidir que o teatro tem que ser apresentado.
É então que um grupo física e emocionalmente esgotado entra no auditório e se põe em posição para representar a história de 6 vidas que tanto tocaria cada pessoa que assistiu e cada pessoa que participou. Ainda antes de as crianças entrarem, de uma voz tão doce e familiar, 'Por Teu grande amor, a luz e o calor, queremos Senhor dar-Te graças, também pelo pão, pela habitação, de bom coração damos graças. Louvamos-Te, oh Deus.' Espontânea e automaticamente, todos nós começamos a cantar, em diferentes vozes, toda a harmonia do único meio de comunicação permitido naquele momento para fazer a ligação entre nós e Deus: a música, o louvor. Quando as crianças começam a entrar, passamos da letra para 'ooooohh's', continuando a entoar a mesma melodia, saída directamente de corações humildes, quebrantados e preparados para servir. As crianças continuam a entrar e nós passamos para 'Amazing Grace', inicialmente com letra, depois sem letra, a vozes, deixando cada criança e jovem perplexa e sem reacção. Começamos então o teatro, tocando e proporcionando mudanças em vidas destroçadas, preparados para seguir a nossa tarefa até ao fim, servindo aquelas crianças em cada segundo daquela semana.
'Deus escreve direito por linhas tortas.' A ligação directa com Ele não foi facilitada, não da forma convencional, mas foi estabelecida, de outra forma, com a união do que fomos e somos enquanto grupo. Oro para que este grupo continue a ultrapassar as barreiras e limites do convencional, mantendo contacto, confiança, partilha, serviço, propósito, juntos. O que nos move? O Deus do impossível, a única esperança tanto para nós como para as crianças com quem trabalhamos.

Dedicado à equipa de líderes e às crianças e jovens do ACJ2010.

domingo, 18 de julho de 2010

.antes

Vozes, gargalhadas, amigos, jogos, sandes, óculos escuros, pulseiras, água fresca, bolas de berlim, areia, mar, uma vida, e eu. Hoje a vida passa-me ao lado. Mantenho-me séria, embrenhada em pensamentos longínquos que me afastam mais e mais da realidade, mais e mais do mundo, e aproximam mais e mais de Ti. Hoje tenho prazer na Tua presença, no Teu conforto, no Teu cuidado, apesar de tudo o que me rodeia. Sei que Tu cuidas de mim, e escolho confiar. Seja como Tu quiseres.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

[dois]

Hoje fica um esboço de sorriso pelo que outrora foi e se foi, de modo a que hoje já não é. Alguém sábio chamou-lhe um dia recordação.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

.o grito

Foto: Hugo Moura

Hoje tudo se resume a um grito.

Até há bem pouco tempo, este seria um momento de nervos, flexibilidade, laca, exercício, brilhantes, músculos doridos, maillot, lantejoulas, maquilhagem, aperto no estômago, treinar e repetir vezes sem conta as partes mais difíceis, repetir o exercício mentalmente, cumprir à risca o aquecimento, como nunca, vendo a flexibilidade aumentar a olhos vistos, e ultrapassar barreiras nunca outrora ultrapassadas, metas nunca antes superadas, não em treinos. Hoje, agora, seria o momento de fazer justiça à expressão 'dei o meu melhor'. Seria o momento de dar tudo de mim, deixar metade do que sou no praticável, fazer valer naqueles 3 minutos o investimento de horas e horas de trabalho. Realmente, foi isso que aconteceu na última vez que estive nesta situação. Foi exactamente isso. Dei tudo, tudo o que tinha e um bocado do que não tinha, e por isso, hoje, tudo se resume a um grito. Assim, hoje acompanho, observo, encorajo, desenho.

Chego cedo e trabalho em preparativos, falo com as treinadoras, dedico-me à minha tarefa, e elas começam a chegar. E aquele cheiro... aquele doce cheiro a ginástica, cuja doçura só percebo agora, que não faço parte do calendário. Respiro-o, sentido a laca, normalmente indesejada, hoje perfeita. Vejo-as aquecer, superar barreiras, treinar o exercício, repetir o que é mais difícil, mudar de roupa, maquilhar, e tudo começa. No irónico papel de locução, apresento as minhas colegas que avançam para mostrar o que valem. No fim, como sempre, o nosso grito. Chego ao praticável num voo desde o meu lugar e grito. Sim, ainda tenho um lugar aqui. Enquanto puder, sou e serei ginasta. Porque ali, na família que é aquela equipa, no abraço que é aquele grito, eu sei quem sou. Não vejo a hora de ter a lesão resolvida e estar ali, a gritar, com maillot, brilhantes, o cabelo cheio da abençoada laca, e o nervoso miudinho característico daquele contexto. Para que na próxima vez não seja só um grito. Porque por grandioso que seja, não é suficiente. Ainda não.

Para ti, minha fiel amiga.
Que estejamos as duas devidamente equipadas para o próximo grito.

domingo, 20 de junho de 2010

.foco

Estou na entrada do Palácio Anjos, à espera de uma preciosa e fiel amiga para um café. À minha esquerda tenho a entrada principal, o terminal dos autocarros, a estação do comboio, o terminal do eléctrico, a bomba de gasolina, fumo, buzinas, travagens bruscas, gritos, posso ouvir e cheirar toda a poluição. À minha direita tenho o palácio, o jardim, a esplanada, os pássaros, as famílias que aproveitam o sol tímido que podemos ver, reflectido em cada centímetro deste espaço, os velhotes que jogam cartas, posso ouvir e cheirar toda a natureza. Tenho duas realidades opostas que se encontram e confrontam exactamente no ponto onde eu estou. E eu estou a admirar a natureza. O barulho na estrada é muito maior, a agitação é completamente inquietante, mas eu hoje, aqui e agora, escolho maravilhar-me com a natureza. O que faz de mim o que sou não é o que me rodeia, mas a minha decisão de focar na estrada ou no jardim. E hoje, estrada, desafio-te. Venham acidentes, trânsito, buzinas, eu não tenciono sequer olhar. Hoje o jardim é meu, os pássaros vieram cantar, para mim, Deus está aqui, e eu quero ouvi-Lo.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

.salmo 30.5

16.Junho.2010
     Hoje escrevo a preto. A ausência de cor com a confusão das emoções que ocupam o meu pequeno corpo (aparentemente, demasiado pequeno para tudo isto) só é descritível em preto. Tudo isto ocupa demasiado espaço, não deixando espaço livre para os meus órgãos, que se debatem e apertam uns contra os outros e, numa luta constante, rejeitam a comida e impedem-me de dormir, sufocando cada inspiração e forçando a saída do pouco ar que me resta. O meu cérebro, como que atingido por um tornado, empurra-se contra o crânio e tenta saír, por algum lado, causando dores capazes de enlouquecer qualquer um. Todo o meu corpo dói, muito. 'O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã.' ... a ver vamos.

17.Junho.2010
     Não é certamente esta manhã. O Sol já vai alto e a alegria ainda não chegou. Hoje também escrevo a preto.

terça-feira, 15 de junho de 2010

.sobre as águas

Insististe para que avançasse sozinha, irias lá ter
Na altura não percebi o motivo, confesso.
Tive que ultrapassar obstáculos, sem experiência nem saber
Pensei que me tinhas esquecido, que já não me irias proteger
Faz a Tua vontade em mim mas não me abandones, é só o que peço.
Conquistando os meus sentidos, o medo invade cada parte de mim
Respiro-o e dou-lhe as boas vindas, numa bebedeira de pavor
Já não penso com clareza e sinto que foi tudo longe demais
Ainda assim, brindo ao anunciar de um possível fim
E bebo, de um trago, ensaiando meia dúzia de palavras finais
Se não resolver nada, pelo menos alivia esta dor.
Afectada pela tempestade, tento não atingir nenhum rochedo
E é nisto que Tu chegas, sobre as águas, inesperado.
Sabia que virias, mas a forma da Tua chegada era ainda um segredo
E eu, sem Te reconhecer, tenho (tanto) medo
Até que Te revelas, e chega a ser ridículo o meu olhar assustado
Com a Tua identidade, a minha falta de fé é revelada
Porque Tu cuidas, e Tu sabes, e eu não avancei 'sozinha'.
Ao contrário do que pensei, não era a única na estrada
Posso agora ver em cada situação a Tua pegada
Grande, firme, sempre junto à minha.
A Tua grandeza é tão única que fascina
E eu desejo juntar-me a Ti e experimentar esse poder
Deixas-me avançar, supero o vento que o meu sonho desafina
Já sobre as águas e vendo as ondas, chega uma dúvida clandestina
Que rouba a aparente fé que eu até aí conseguira manter.
O que temia torna-se real, e sou arrastada para o fundo
Sufocada por circunstâncias, acabo submersa no vastíssimo mar
Eu sabia (e sei) que na palma da Tua mão está o mundo
E avancei confiante, até duvidar. uma fracção de segundo.
E foi esta dúvida (não a tempestade) que acabou por me afogar.
O meu futuro não depende do que me rodeia
Não está assente em vitórias ou em mágoas
Cada um colhe o que semeia
Perdoa-me, Pai, é nisso que este poema se baseia,
Porque ainda não tive fé suficiente para andar sobre as águas.


Mateus 14.22-33 'Jesus anda sobre as águas'
      22Logo em seguida obrigou os seus discípulos a entrar no barco, e passar adiante dele para o outro lado, enquanto ele despedia as multidões.  23Tendo-as despedido, subiu ao monte para orar à parte. Ao anoitecer, estava ali sozinho.  24Entrementes, o barco já estava a muitos estádios da terra, açoitado pelas ondas; porque o vento era contrário.  25À quarta vigília da noite, foi Jesus ter com eles, andando sobre o mar.  26Os discípulos, porém, ao vê-lo andando sobre o mar, assustaram-se e disseram: É um fantasma. E gritaram de medo.  27Jesus, porém, imediatamente lhes falou, dizendo: Tende ânimo; sou eu; não temais.  28Respondeu-lhe Pedro: Senhor! se és tu, manda-me ir ter contigo sobre as águas.  29Disse-lhe ele: Vem. Pedro, descendo do barco, e andando sobre as águas, foi ao encontro de Jesus.  30Mas, sentindo o vento, teve medo; e, começando a submergir, clamou: Senhor, salva-me.  31Imediatamente estendeu Jesus a mão, segurou-o, e disse-lhe: Homem de pouca fé, por que duvidaste?  32E logo que subiram para o barco, o vento cessou.  33Então os que estavam no barco adoraram-no, dizendo: Verdadeiramente tu és Filho de Deus.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

.luz ao fundo do túnel

A minha equipa nem sempre vence
O dia-a-dia não corre como planeado
Quero um estilo de vida que me recompense
‘Pai, dá-me a parte da herança que me pertence
Para poder fazer tudo o que não fiz no passado.’
Recebi, assim, tudo, antecipadamente.
E parti para um pais distante
Gastei tudo numa insensatez adolescente
Desperdicei cada cêntimo, agindo de cabeça quente
E tive que sobreviver sozinha nesta guerra constante
Com trabalho acrescido supria as necessidades
Vivia (se isso é viver) com um esforço desnecessário
Lembrei-me da protecção do Pai em todas as dificuldades
Melhor seria voltar e ser serva, protegida nas adversidades
Do que ficar longe sem nada e sozinha contra o adversário.
Eu ainda vinha longe, quando o Pai me reconheceu
É tão ridículo pensar que duvidei da Sua soberania
Como filha e não como serva, de braços abertos me recebeu
Preparou uma festa, a minha ansiedade desapareceu
‘Bem-vinda a casa’, era só o que eu ouvia
Sem palavras para agradecer, aprendi a lição
A vida não é fácil, cada um carrega a sua cruz
Os sorrisos dos que me amam trouxeram o perdão
Aos pés da Sua cruz relembrei a salvação
Olhando para o fundo do túnel, consegui ver a luz.


Lucas 15.11-32 'O Filho Pródigo'
     11Disse-lhe mais: Certo homem tinha dois filhos.   12O mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte dos bens que me toca. Repartiu-lhes, pois, os seus haveres.   13Poucos dias depois, o filho mais moço ajuntando tudo, partiu para um país distante, e ali desperdiçou os seus bens, vivendo dissolutamente.   14E, havendo ele dissipado tudo, houve naquela terra uma grande fome, e começou a passar necessidades.   15Então foi encontrar-se a um dos cidadãos daquele país, o qual o mandou para os seus campos a apascentar porcos.   16E desejava encher o estômago com as alfarrobas que os porcos comiam; e ninguém lhe dava nada.   17Caindo, porém, em si, disse: Quantos empregados de meu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço de fome!   18Levantar-me-ei, irei ter com meu pai e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e diante de ti;   19já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus empregados.   20Levantou-se, pois, e foi para seu pai. Estando ele ainda longe, seu pai o viu, encheu-se de compaixão e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou.   21Disse-lhe o filho: Pai, pequei conta o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho.   22Mas o pai disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa, e vesti-lha, e ponde-lhe um anel no dedo e alparcas nos pés;   23trazei também o bezerro, cevado e matai-o; comamos, e regozijemo-nos,   24porque este meu filho estava morto, e reviveu; tinha-se perdido, e foi achado. E começaram a regozijar-se.   25Ora, o seu filho mais velho estava no campo; e quando voltava, ao aproximar-se de casa, ouviu a música e as danças;   26e chegando um dos servos, perguntou-lhe que era aquilo.   27Respondeu-lhe este: Chegou teu irmão; e teu pai matou o bezerro cevado, porque o recebeu são e salvo.   28Mas ele se indignou e não queria entrar. Saiu então o pai e instava com ele.   29Ele, porém, respondeu ao pai: Eis que há tantos anos te sirvo, e nunca transgredi um mandamento teu; contudo nunca me deste um cabrito para eu me regozijar com os meus amigos;   30vindo, porém, este teu filho, que desperdiçou os teus bens com as meretrizes, mataste-lhe o bezerro cevado.   31Replicou-lhe o pai: Filho, tu sempre estás comigo, e tudo o que é meu é teu;   32era justo, porém, regozijarmo-nos e alegramo-nos, porque este teu irmão estava morto, e reviveu; tinha-se perdido, e foi achado.

Estou de volta a casa. Obrigada, Amiga.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

.estação de serviço

A viagem é longa, muito longa.
E eu quero (tanto) chegar ao fim
Vamos, acelera, sem paragens.
Chegar lá é importante para mim
Não vamos perder tempo com palavrinhas de cetim
Não há oásis, isso são miragens,
Não há tempo para ver paisagens
Não chegamos lá hoje, se continuamos assim.
A viagem é longa, muito longa.
E torna-se cada vez mais cansativa
Confirmo que o condutor ainda não adormeceu
Tento manter uma atitude positiva
Mas estou cansada e o sono não incentiva
"Pessoal, devíamos parar." (isso sei eu!)
"Temos que abastecer e este carro nem sequer é meu."
A viagem é longa, muito longa.
Chegamos, finalmente, a um consenso
E abandonamos temporariamente a estrada
Precisamos de descansar, é um percurso intenso
Até foi bom parar, agora que penso,
Descansar e abastecer para continuar a jornada
Em vez de arriscar ir pela saída errada
Ou ter um acidente, e isso eu dispenso.
Com um cansaço que já não venço
Paramos na estação de serviço e admito, estou cansada.
A viagem é longa, demasiado longa
Para ser feita de forma descuidada.


"Esperei com paciência no Senhor, e Ele se inclinou para mim, e ouviu o meu clamor." Salmo 40.1

sábado, 17 de abril de 2010

.cicatrizes

Passou mais um dia, um mês, um ano,
E tudo se repete.
Todos os dias, como que por um plano
Chega o Problema, indesejável e mundano
E deixa marcas da sua passagem, como lhe compete
A vontade é abrir a torneira e deixá-lo ir pelo cano
Quem sabe já percebeu, quem não sabe, que interprete.
Independentemente do que eu diga, faça ou pense
O Problema não desaparece, existe para atormentar
Ele engana-se, se acha que me convence
Numa batalha assim, só sobrevive o guerreiro que vence
Não há premio para o segundo lugar
Se dependesse de mim, isto acabava já.
Esperei demasiado, esperámos demasiado
Não podemos contar com os ‘talvez eu vá...’
Olhamos a volta e contamos com quem está.
E assim podemos transformar este presente em passado.
Tudo podia ter sido mais fácil, eu sei.
Dei voltas maiores para arranjar cicatrizes desnecessárias
Fiz um caminho mais difícil com decisões que tomei
Voltas e voltas por ‘atalhos’ sem lei
Que me fizeram perder tempo com opiniões contrárias
Hoje, por algum motivo, estou em paz.
Nada mudou, o Problema continua aqui, bem perto.
Há pessoas que eu devia ter conhecido há muito tempo atrás
Provavelmente por esta altura já não via o que o Problema faz
E já tinha parado de rastejar pelo deserto.
Continua a ser incrível a forma como fomos resgatados
Por algum motivo a novidade trouxe protecção
Em vez de nos apedrejar pelos nossos pecados
Fez-nos sentir protegidos e amados
Porque há um Amigo mais chegado que um irmão.


Glücklicher Geburtstag, Freund! Gott segnet Sie

sexta-feira, 19 de março de 2010

.casa sobre a rocha

Tudo o que eu pedia era um pouco de estabilidade.
Acolheria o primeiro abraço que me quisesse acolher
Guardava no coração os recantos da cidade
E deixava-os escapar, livres, em lágrimas de saudade
Desabafos, poesia de situações que nunca quis viver.
Hoje trago comigo um ‘eu’ prematuro
Obrigado a crescer depressa, num labirinto
Actualmente, num turbilhão de sentimentos que misturo
Eu tento estar à altura do desafio, juro!
Mas acabo a fugir à realidade, vivendo no quadro que eu própria pinto.
Fujo vez após vez àquele confronto ‘acidental’
Um dia começo a andar com um canivete
Sei que devo ser luz, sei que devo ser sal,
Mas aquela capacidade mórbida de ser pontual
Altera-me e destrói-me de cada vez que se repete.
Distribuo sorrisos na morada da tristeza
Encontro refúgio em propriedade alheia
Pai, tu és o meu refúgio e fortaleza
Tu és a minha força em tempo de fraqueza
Eu estava a construir uma casa sobre a areia
Construi sem planear
Um projecto sem estrutura
Hoje consigo estruturar
Não estou sozinha, sei quem me pode amparar
Não tenho medo, nem na noite mais escura.
Não faz sentido tocar uma música e alterar-lhe o andamento
Não faz sentido tentar iluminar uma cidade inteira com uma tocha
Por vezes temos que esperar pelo acalmar do vento
Por vezes é a dar voltas ao cruzamento
Que conseguimos construir a nossa casa sobre a rocha.


'Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha. E desceu a chuva, e correram os rios, e assopraram os ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha. E aquele que ouve estas minhas palavras e não as cumpre, compará-lo-ei ao homem insentato, que edificou a sua casa sobre a areia. E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e caiu, e foi grande a sua queda.' Mateus 7.24-27

Dedicado.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

.dependente dEle

Porque é que quando já não estamos à espera, depois de perdermos toda a preparação, é que as coisas acontecem? Mentalizei-me, preparei-me, e afinal já não era para acontecer. Voltei ao estado normal de 'não vai acontecer', e aconteceu. Deus tem um sentido de humor fantástico. Não podemos ter nada como certo, nada como definitivo, porque queiramos ou não, gostemos ou não, a verdade é que nada depende de nós. Ainda tenho que me habituar a essa ideia.

sábado, 23 de janeiro de 2010

22-01-2010 22:00 o acidente

Foto: Joana Wagner

Sexta-feira, mau presságio, o dia foi duro.

Começou logo de manha com uma sessão formal de algo que por motivos que não vou explicar, não vou pormenorizar aqui. À tarde, responsabilidades que não estava pronta a assumir, com dificuldade acrescida, motivos e motivos que desequilibram todo o meu sofisticado sistema de sobrevivência.

Ao fim da tarde o dia ia finalmente começar a melhorar. Reunião de jovens na igreja, os jovens passariam a noite lá. Eu, por ter recital no dia seguinte, voltaria para casa à meia-noite. Um pequeno percalço, eles chegaram ao local combinado, entrámos na carrinha e arrancámos. A carrinha estava a fazer a volta do costume para ir buscar os jovens. Depois de Algés seguiu para Paço de Arcos, por fim Leceia e, com todos a bordo, a paragem seguinte seria a igreja.

Não foi da vontade de Deus que chegássemos à igreja naquela carrinha. O que vou contar a partir daqui passou-se a uma velocidade alucinante, tão alucinante que ainda não percebi bem como tudo aconteceu. Para ser franca, o único motivo que me faz estar a escrever este texto é a necessidade de organizar as ideias e perceber bem o que se passou, para parar de pensar no assunto. Estávamos numa estradinha sem iluminação no meio de nada algures entre Leceia e Carcavelos. A estrada tinha muitas curvas, pouca visibilidade e aproximámo-nos de uma subida. A carrinha é velha, só conseguiria fazer a subida se fosse com alguma velocidade logo de início. Fizemos a descida anterior de forma a ganhar velocidade para fazer a subida, mas a estrada antes da subida, na curva, estava molhada. A carrinha não conseguiu fazer a curva, derrapou, bateu contra um muro e foi parar largos metros à frente, em contra mão. No interior, nós íamos a conversar e rir, não nos apercebemos do perigo, só dois dos jovens perceberam que íamos ter um acidente. O embate foi totalmente inesperado, e como a carrinha não tem cintos de segurança atrás, defendemo-nos cada um como pôde. Éramos 10 pessoas dentro da carrinha, gente a mais, e isso protegeu-nos. Funcionámos quase como cintos de segurança uns para os outros. Quando a carrinha parou, começaram as perguntas:
- Estão todos bem?
- O que é que aconteceu?
- Nós podíamos ter morrido!
- Podemos sair daqui?
- Eu só quero sair daqui, chegar à igreja.

Estávamos preocupados por estarmos no meio da estrada em contra-mão e com pouca visibilidade, algum carro podia bater-nos. Tirando um dos líderes, que estava no local do embate e ficou com um pé magoado e alguns cortes na cara, ninguém estava ferido, um autêntico milagre. Um carro da policia estava a passar por ali, viu-nos e parou. Ficámos desde então protegidos contra outro embate, e assim mais seguros. Abriram a porta da carrinha, deixando-nos sair. Rapidamente chegou uma ambulância e o pai de um dos jovens, que começaram a tratar de tudo. O pai em questão levou os seis que estavam bem para a igreja, e os bombeiros levaram um jovem menor para o hospital S. Francisco Xavier, e eu mais outro jovem e o nosso líder para o hospital de Cascais. Graças a Deus, ninguém teve ferimentos de maior. Um inchaço aqui, uma nódoa negra ali, um corte ou outro, ficámos todos bem. A carrinha era velha, não tinha cintos, o nosso líder ficou com vestígios do muro no casaco, ele próprio bateu no muro, avançámos bastante antes de parar e o que houve foram quatro feridos ligeiros. A ajuda chegou quase imediatamente, apesar dos nervos e de sermos todos muito jovens, foi possível manter a cabeça fria, tudo isto serviu para nos unir mais enquanto grupo. Hoje encaramos a vida com outra atitude. Falando por mim, sinto-me grata a cada momento por tudo ter sido assim, porque estamos todos bem, por cada momento bom, cada dia em que acordo, tudo o que tenho e nem reparo, porque ‘só damos valor às coisas quando as perdemos.’ Agora, se vou viver com medo a partir de agora? Nem pensar! Isto fez-me acordar para a vida, aproveitar cada momento, viver tudo mais intensamente, fez-me perceber o que é realmente importante para mim, fez-me sentir protegida. Porque naquele momento, muitas ‘coincidências’ contribuíram para que nada de grave nos acontecesse. Hoje dou valor aos pormenores, às coisas simples da vida a que nos acomodamos e habituamos, esquecendo-nos de que há quem não tenha nem metade. Hoje sinto que nada me pode prejudicar, eu sabia que estava protegida, mas nunca tinha experimentado esta protecção de uma forma tão directa.
‘Que diremos pois a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?’ Romanos 8.31

Dedicado às dez pessoas que iam na carrinha quando tivemos a nossa segunda oportunidade de viver realmente, marcar a diferença, não ser apenas mais uma pessoa normal, vivendo apenas mais um dia normal.

sábado, 16 de janeiro de 2010

.oásis

Sabes? Às vezes é simplesmente demais. Tudo o que repito para mim própria vezes sem conta porque ‘uma mentira dita muitas vezes torna-se verdade’ deixa de fazer sentido. Não, não está tudo bem. Não, eu não estou bem. E não, as coisas não vão ficar bem. Uma porta abre-se para um corredor com 1000 portas fechadas, e nada resulta. Nada é o que devia ser, nada vale a pena; nada é o que é, e o que é, nada é. Tudo é uma farsa; um foi o que não devia, o é o que sempre foi, restando assim o que será. E o que será não será o oásis sonhado, planeado, esperado. Antes, será o que foi, o que é, mantendo as aparências e mentiras do ‘um dia tudo será diferente.’ Mas porque não nos conformamos ao que é? Afinal, sempre foi. Porque não haveria de continuar a ser? ‘Quanto maior é a subida, maior será a queda.’ Então, porque não rastejar eternamente? Esta queda não é senão o duro aperceber de que nada mudará e os contos de fadas são mentira. Assim sendo… lutar para quê? Existir para quê? Se o ter não importa e o ser nada pode, o que fica? O que escrevo não faz sentido, mas nunca escrevi nada tão real. A realidade não faz sentido. E se um dia tudo for demais, tudo chegar ao limite? É o fim? Quem sabe… talvez chegue nessa altura o meu oásis.

sábado, 9 de janeiro de 2010

.abrigo

Há algum tempo que não escrevia,
À partida é um bom sinal.
Já em pequena superava com poesia
Cada provação que me abatia
Só escrevo quando estou mal.
Com 18 anos sinto-me caquética
Vivo a um ritmo alucinante
Sufocada por uma questão genética
Perco num desabafo a minha veia poética
Sou invadida por uma inquietação angustiante
e nada faz sentido.
Vivo sem realmente viver
Sonho sem realmente sonhar
Quando o inimigo toma o poder
Eu podia ser dona da razão, dona do saber
E não teria a capacidade para o derrotar.
O mais ridículo, o que mais me admira
É que fui em quem deu o poder ao inimigo
Eu acreditei em cada mentira
Eu desisti do sonho que perseguira
Eu sai do meu abrigo
e nada faz sentido.
Hoje, sem saber porquê, vivo um castigo
Algum tipo de punição
Vivo cada dia no meio do perigo
É preferível ter a vida de um mendigo
A ter tudo e perder-me na agressão.
A rua não é a minha casa
Mas atrevo-me a dizer... antes fosse!
Cada minuto com ele só me atrasa
É suposto mostrar-me calma, e por dentro estou em brasa
Transformei em pedra de sal o que outrora foi doce.
e nada faz sentido.

Nada faz sentido.
Tudo está controlado
e nada faz sentido.
O futuro, o presente e o passado
e nada faz sentido.
Acredito que tudo se vai resolver
Ou pelo menos finjo acreditar
Acredito que um dia vou perceber
Que um dia vou poder viver
Viver tudo o que até hoje só pude sonhar.
Acredito que um dia viverei num lar abençoado
Que um dia derrotarei o meu inimigo
Acredito que um dia poderei deixar o passado no passado
Acredito que um dia terei o meu futuro à tanto esperado
Acredito nisto, enquanto estiver no abrigo.
Porque se saio para o mundo real
Se ouso ultrapassar este muro
Vou acabar numa realidade imoral
Numa terra sem luz e sem sal
E pior, perco o meu único porto seguro.
e nada faz sentido.

'Vinde a mim todos os que estais cansados e oprimidos e eu vos aliviarei! E aprendei de mim que sou manso e humilde de coração! Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve!' Jesus Cristo

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

.olho da tempestade

Bonança? Era bom!
Tudo é uma provação
Todo o enredo desta ilusão
A diferença entre surdez e ausência de som
A importância de cada decisão
A tempestade parou por um momento
E muitos já abandonaram a fortaleza.
Posso apenas observar com tristeza
O regresso do vento
A esta cidade indefesa.
É tão triste vê-los sorrir
Diante da sua perdição
Não aguentaram a provação
Têm as vidas a ruír
E perdem-se por completo na agitação
Fogem da sabedoria
Quero ajudá-los, mas esmoreço
Quero abandonar o abrigo, mas permaneço
Eles não sabiam o que a tempestade lhes traria
'Tudo na vida tem um preço'
Desesperam na sua ingenuidade
Um aqui desiste
Outro ali persiste
A calmaria era o olho da tempestade
Vejo que por todo o lado o pânico subsiste
É aterrador, todo o panorama
Tudo lá fora está imundo
Sinto sofrimento neste cheiro nauseabundo
Vejo a destruição de uma cidade de boa fama
Aqui e ali, um desgraçado moribundo
O outrora belo, que a desgraça a destroços resume
Muitos foram iludidos pela tempestade 'parada'
Muitos perderam a vida na reentrada
Uma bela cidade que perdeu o seu perfume
Por uma tempestade que ainda nao estava acabada
A vista fora do abrigo é atroz
O estado da cidade é decadente
Tenho que estar em alerta permanente
A esta tempestade feroz
Que destrói corpo e mente
Preciso de sabedoria para me manter no abrigo
Preciso de coragem e paciência
Para saber ver para além da aparência
Sei que há quem se preocupe comigo
E não hei-de perder a minha essência
Mas, se vejo a luz ao fundo do túnel?
Como??
Eu nem sequer vejo o fim do túnel!
A importância de cada decisão
A diferença entre surdez e ausência de som
Todo o enredo desta ilusão
Tudo na vida é uma provação
Bonança? Era bom!

terça-feira, 18 de agosto de 2009

.esperança


Não me atrevo a dizê-lo, criando uma ânsia interior
Talvez pela dor, ou pelo medo que me invade
Talvez por já nem saber onde está a verdade
Sento-me no chão, abafando o silêncio do meu clamor
Mesmo não o dizendo, sei que chegou a tempestade
Tento acreditar que não sei o que se passa
Finjo não perceber o que o seu silêncio me diz
Crio uma melodia, uma tentativa desesperada de existir
Quebro assim o silêncio, como um corpo que uma faca trespassa
Ganho coragem, escrevo, faço algo que nunca fiz
Confio-Lhe a minha vida, para onde Ele for eu irei
Percebo que a vida não está só nas palavras
Há muita vida nos momentos de silêncio
Cada pausa é importante na composição da melodia
Ultrapassar a pausa mostra força e ousadia
Depender dEle dá-me força e segurança
Ganho sabedoria e coragem, ganho esperança
Vivo um 'sou, faço' e não um 'seria, faria'
Sei que nem tudo está perdido
Afinal, as flores abrem a cada novo dia.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

.debaixo dos destroços

Faz-se silêncio.
Será que acabou?
Afogada em dúvidas
E sem a capacidade de duvidar,
Respiro incerta a certeza de que tudo parou.
Não há o mais leve oscilar.
Penso e existo devagar
Sem pressa, sem preocupações,
Tudo está dependente de decisões
Que não me cabe a mim tomar.
Agora é certo,
A tempestade passou.
Acabou, finalmente, o que outrora esteve tão perto.
Resto eu, soterrada, num sítio deserto,
Debaixo da minha vida, que com a tempestade desabou.
Não sei onde estou
Não me consigo mexer
Não sei o que fazer
E desisto do que sou
Porque sou apenas o que não quero ser.
Recordo.
Cada momento de felicidade que nunca existiu
Cada refeição e o silêncio à volta da mesa
Cada grito, cada gesto nesta discussão sempre acesa
Cada promessa por cumprir nesta mentira que nos consumiu
O conformismo vergonhoso. Até o gigante fugiu!
A vontade de lutar de uma criança indefesa.
Recordo.
Os "tais" velhos tempos
A minha busca incansável pela ataraxia
A crença cega numa utopia
No eterno parar dos ventos
Num momento de cortesia
Num momento que ultrapassa os "tais" momentos
Mesmo sem acreditar que esse momento chegaria.
Recordo.
O outrora sorriso meu;
Distantes, abraços nossos
Num mundo apenas meu e teu.
Agora, o meu corpo,
Pouco mais que pele e ossos,
Morre na mentira em que sempre viveu
E quando o sofrimento enfim o esqueceu,
Jaz e repousa debaixo dos destroços.
E faz-se silêncio.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

.mensagem numa garrafa

Estive meses naquela gaveta, à espera de ser escolhida
Cada dia Ele a abria, e tirava outras folhas,
Olhava para mim e dizia ‘Ainda não está na hora.’
Eu queria tanto começar a minha vida!
Poder sair, ter opinião, fazer escolhas,
‘Mas, Pai, porque não me tiras agora?’
‘Cada coisa a seu tempo’, e fechava a gaveta.
Todos os dias, o mesmo ritual
Um acto único que se tornara banal
O virar infinito da ampulheta
Numa eterna realidade surreal
Certo dia, tal como em todos os outros, senti a gaveta abrir
Pude ver novamente a Sua brandura
Mas algo estava diferente,
Com Seu olhar meigo, repleto de doçura
Impediu a minha tentativa de me abstrair
E tirou-me de dentro daquela armadura.
Carinhosamente, pousou-me debaixo do velho candeeiro
Só então percebi ser uma folha sem mensagem
Escreveu em mim, encheu-me de coragem
Prometeu ser O meu companheiro.
E preparou-me para a viagem.
‘Mantém-te firme, confia em Mim
Quem te encontrar, reconhecerá a minha caligrafia
Desta tonalidade quente, carmesim’
Não sabia se seria sempre assim
Mas certamente iria lutar para viver, dia após dia.
Pegou numa garrafa, e lá me acomodou
‘Fica aí dentro até chegares ao teu destino.’
Atirou-me ao mar, como passageiro clandestino
A escuridão do sótão acabou
Passei a viver num azul cristalino.
Havia apenas uma coisa que eu não sabia
A viagem não fora pensada à minha maneira
Ele ter-se-ia enganado, ao me achar aventureira
As ondas eram grandes, a garrafa quase partia
Decidi sair, e escolher a minha própria carreira.
Sozinha em alto mar, não escapei à tempestade
Cada onda me estragava mais, a minha tinta desapareceu
‘Agora ninguém vai poder ver o que Ele em mim escreveu’
Não era esta a minha vontade!
Tropecei e cai na primeira adversidade
Não percebo porque é que Ele me escolheu.
Ao tentar reescrever as palavras
Apenas me magoei mais
Às tantas tinha cicatrizes tais
Que nem a minha dor era legível
A minha existência tornara-se impossível
Vivera tempo demais.
Arrependi-me de ter saído da garrafa
Arrependi-me de não ter confiado
Tudo o que fiz foi errado
Agora tudo acabou. Desisti.
Experimentei a segurança que durante anos esqueci.
Fiquei apenas inerte, esqueci-me do tempo.
Deixei as minhas angústias serem levadas pelo vento
Vento esse que optou por me enganar
E mostra agora toda a verdade,
Pondo de lado a falsidade
Que estava habituado a usar.

Não falo, não tenho significado
Não corro qualquer risco
Sou um pedaço de papel abandonado
Eternamente marcado pelos erros do passado.
O tempo passa, praticamente não existo.
Mas sem que eu espere, ouço a sua voz
Sonho com a protecção do sótão,
Contentar-me-ia com uma casquinha de noz
Sou apenas o resultado da minha falta de gratidão.
Com o Seu amor de Pai,
Ele encontra-me, oferece-me perdão
Restaura-me, com uma tinta que não sai
Envia-me novamente, na minha jornada
Desta vez obedecerei.
Por amor do Seu nome, sem condições confiarei
Já não temo as ondas, o vento ou a trovoada
Viajarei, firme até ao dia da chegada
Viverei para o meu Pai, meu Salvador e meu Rei
E se alguma vez a tribulação me roubar a alegria
Continuarei no Seu plano divino
Agradecerei pela garrafa que me protege
Seguirei sempre com ousadia
Confiarei no líder que me rege
Hei-de chegar ao meu destino
Pois ‘Não haverá atraso de um só dia.’

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

.silêncio

Foto: Verónica de Sousa

Começa um novo dia
Antes não tivesse começado.
Desapareceu a ousadia
e procuro a alegria
em mais um sonho estragado.
Tapo os olhos para não ver os seus gestos
Tento ensinar algo em que sou aprendiz
É agora recordação o que outrora foi audível
Procuro ao viver atingir o impossível
Esforço-me para não perceber o que o seu silêncio me diz.
Durante anos esperei pelo fim
Esperei e desesperei, sob o seu rugido ensurdecedor
Esperei e abdiquei do que em tempos desejei para mim
Esperei e aceitei continuar a viver assim
Abdiquei dos meus sonhos por já não suportar a dor.
Na abundância de som desejei o silêncio
antes não o tivesse desejado.
Hipocritamente escondido, ele apenas consome
Na abundância de alimento, ele faz-me sentir fome
Liberto-me, presa por um grito sufocado
Escrevo um poema que não faz sentido.
Desejo ouvir uma palavra de esperança
ou simplesmente uma palavra vinda de um amigo
apenas uma palavra, de quem se preocupa comigo
"coragem, irmã. depois da tempestade vem a bonança"
Ao afogar-me no silêncio da ditadura
desisto de um sonho que outrora sonhei
Passeio sozinha em ruas de amargura
No fim, o que mais me tortura
é o silêncio que tanto esperei.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

.como uma criança

Foto: Verónica de Sousa

O Sol surge no horizonte, anunciando um novo dia
Com palavras bonitas finjo superar o que nunca esqueço
Com um sorriso falso cubro toda a melancolia
A insegurança roubou-me a ousadia
Tudo na vida vem com um preço.
A situação repete-se dia após dia
Mantenho um estilo de vida de sobrevivência
Destruindo o meu interior sem alterar a minha aparência
Aceitando e alimentando esta rotina doentia.
A falsidade cobre com dúvidas a minha vontade de viver
Vejo-me fechada numa prisão de gestos e palavras superficiais
Padrões de etiqueta supostamente essenciais
Sorrisos forçados no meio dos quais tenho que crescer
Uma sociedade conformista num mundo sem ideais.
A frieza dos corações é estupidamente contagiante
Esta gente já nem sabe o que é lutar!
Ninguém arrisca, ninguém quer arriscar
Vejo uma ausência de sentimentos em cada semblante
Não sabem que têm que perder para depois poderem ganhar.
Não sabem que a vida é e vai continuar a ser dura
Não sabem em quem devem confiar
Distribuem gratuitamente a sua confiança
Não querem aceitar a única fonte de segurança
Depositam as vidas numa falsa esperança futura
Não sabem que depois da tempestade vem a bonança.
Têm que aprender a viver como uma criança
Que vive cada dia na sua simplicidade
Não se preocupa com o que vai comer
Não se preocupa com o que vai ter ou não ter
Tudo aparecerá quando houver necessidade.
Hoje vivo assim, e assim tenho paz.
Hoje vivo, sonho, luto, sei ganhar e sei perder
Não vivo dependente de alguém incapaz
Vivo dependente do Rei dos reis
Aproveito cada dia, cada momento que a vida me traz
Porque ser cristão é seguir leis
Ser cristão é saber viver
Não o ser é apenas sobreviver.

terça-feira, 15 de abril de 2008

.demasiado tarde

Foto: Verónica de Sousa

Eu tive o melhor namorado do mundo.
Por tudo e por nada trazia-me flores,
Frascos caros com raras fragrâncias e odores,
O poema de amor mais profundo,
Ele era um sonho tornado real
Deu-me uma relação desprovida de dissabores
Como eu me sentia especial!
O dia do nosso casamento foi lindo
Tudo perfeito, tal como eu sonhava desde criança
Ainda vejo os seus lábios sorrindo
Os seus olhos transmitindo
"Ao meu lado estás em segurança."
Eu acreditei, se acreditei!
Tinha à minha frente a mais bela relação
Tinha ao meu lado o homem com que sonhei
Estava a entrar numa vida de perfeição
Quem me dera nesse dia já saber o que hoje sei!
Os problemas começaram desde o primeiro dia.
Gritos, discussões, ameaças, agressões,
Mas a culpa não era dele, mas da minha ousadia
Eu é que era egoísta e não o compreendia
Tinha que compreender as suas razões
Era pelos meus actos que ele me batia.
Nunca mais me trouxe flores.
Nunca mais me dirigiu o seu sorriso
Dirigia-o a outros olhos, a outros amores
Batia-me até eu não suportar as dores
Nunca me deu o que realmente preciso
Vigiava-me e controlava os meus passos
Explicava-me o que os meus olhos não viam
"A culpa é tua. Sou assim porque não sabes amar."
Entregava o afecto que me pertencia noutros braços
E os murros que esses braços mereciam
À minha face vinham parar.
Os anos passavam, não havia Natal
Ele esqueceu o meu aniversário, até a minha idade
Tudo se repetia dia após dia
Todo o seu ódio e toda a sua maldade
Mais um dia neste ciclo sem fim,
E como eu gostaria de voltar a receber flores!
No fundo, a culpa só podia ser minha
Eu é que o contrariei e as coisas ficaram assim
Eu é que existo como se vivesse sozinha.

Hoje ele comprou-me flores. Muitas flores.
Hoje é um dia realmente especial
Na última semana ele bateu-me tanto
Que eu fui em coma para o hospital.
As lesões era demasiadas em todo o meu corpo
Os médicos tentaram evitar o inevitável
Morri ontem, às 05h da manhã, sozinha e desfigurada
Hoje é o dia do meu funeral
Mergulhei para sempre num sono profundo
Mas a culpa não foi dele, eu é que agi mal
Afinal, eu tive o melhor namorado do mundo.

terça-feira, 1 de abril de 2008

.de olhos fechados

Foto: Verónica de Sousa

De olhos fechados avanço sem ter chão
Os meus pés em sangue já não sentem a dor
Toda a superfície de que piso está coberta de vidros
Cacos da garrafa partida, encharcados nos restos do licor
Cacos da minha família dividida,
encharcados nos restos da minha vida sem sabor.
O álcool que inicialmente foi tão doloroso
Saturou o meu corpo e a minha mente;
Impediu-me de ver o seu ar de gozo
tornando-me totalmente imune e indiferente.
A minha indiferença foi o combustível do seu rancor
E esse fogo alastrou por fim
reduzindo a cinzas a importância da minha imunidade
dando-me a beber um copo de pavor
fazendo-me duvidar do que sabia ser verdade
e roubando a melodia que outrora houve em mim.
De olhos fechados, percebo que não posso continuar
Pelo menos não sozinha.
Levei a situação ao limite, tentei realizar o impossível
Avançando de olhos fechados, não soube ver quando parar.
A minha imaturidade é visível.
Eu não quero a vontade dEle, quero apenas a minha.
De olhos fechados sei que Ele está aqui
No fundo sei que sempre esteve ao meu lado
Eu escolhi não o ver, ignorei-o e parti
Voltei as costas ao meu Pai Amado
Fechei os meus olhos, e nunca mais os abri.
Hoje olho para a frente, porque não posso mudar o passado.
De olhos fechados ouço o Seu convite
De olhos fechados seguro a Sua mão
De olhos fechados confio-Lhe a minha vida
De olhos fechados recebo a salvação.
E apesar de não ver, sei que já não estou perdida
Fiz as pazes com Ele, sigo-O de olhos fechados
Irei para onde Ele me levar
Só porque sei que não deixa os Seus filhos desamparados.
E se for da Sua vontade,
um dia abrir-me-á os olhos, dar-me-á novamente a visão,
permitindo-me ver que no meio da maior tribulação
Ele mostra todo o Seu amor e fidelidade
que perante a minha maior transgressão
Ele queima a mentira e repõe a verdade
e dando-me assim mais um motivo
para conseguir cantar na tempestade!

segunda-feira, 10 de março de 2008

.sonho

Foto: Verónica de Sousa

Sonhei que acordava com a luz rosa e alaranjada da alvorada, num lugar diferente. Um lugar onde tudo é de uma beleza e perfeição cristalinas.


Ao abrir os olhos, toda aquela luz de tonalidade única e a brisa fresca matinal invandem-me. Ouço a melodia das ondas, tropeçando e deslizando ao mesmo tempo que a sua espuma branca se desfaz na areia finíssima, vez após vez. Olho à minha volta. O que vejo é algo maravilhoso e inexplicável. Os pássaros cantam, o vento encarrega-se de acompanhar a sua melodia, passeando-se entre as àrvores e escolhendo ora sons graves, ora sons agudos, e encaixando perfeitamente na melodia assobiada docemente pelos pássaros.


Levanto-me pela primeira vez, e admiro toda aquela perfeição; deslumbrada, viro-me de costas para o mar, reparando pela primeira vez na paisagem verde que tenho atrás de mim. Toda a floresta parece estar viva, como se tivesse sido criada naquele momento, só para que eu a visse. impressionante. A sensação é que a floresta me chama para entrar nela. Como é mais forte que eu, acabo por entrar mesmo. Enquano me vou embrenhando pelo meio das árvores, perco por completo a noção do tempo.


Chego finalmente a um sítio diferente, com a sensação de ter andado horas. É uma espécie de descampado, no meio daquele paraíso. No meio deste descampado há uma rocha bastante grande. Subo para ver à minha volta. Olho para a direita, vejo mar; olho para a esquerda, vejo mais mar... tenho mar a toda a volta! Estou cercada, presa naquilo que agora percebo ser uma ilha. De repente, toda aquela maravilha se torna num pesadelo. Penso em pedir ajuda, mas não há ninguém. Estou sozinha no meio de nada. O céu limpo cobre-se rapidamente com nuvens grandes e negras. Começa a chover torrencialmente. Todos os pássaros desaparecem; aquele sussurrar do vento transforma-se num rugido assustador. Aterrorizada, tapo os olhos com força. Desejo apenas que isto acabe. De repente, um ruído fortíssimo impõe-se a tudo o resto. Abro os olhos completamente atordoada; vejo o brilho das letras fluorescentes do meu despertador. São 7horas em ponto. Levanto-me aliviada e, pela primeira vez, satisfeita com a imperfeição da realidade.

sexta-feira, 7 de março de 2008

.buracos na estrada

Foto: Joana Wagner

Abro os olhos, sinto a brisa fresca no meu rosto
À minha volta, sorrisos desconhecidos fixam-se em mim
Todos querem tocar-me, pegar em mim ou apenas ver-me a dormir
Sou para todos um motivo de festa e alegria
Encontro segurança no peito a que me encosto
Não sei porque está aqui tanta gente a sorrir assim!
Todos ficam parados de repente, como que à espera de me ouvir
Solto-me num choro, percebo o motivo desta agitação
Cheguei à estação para iniciar a viagem da vida.
Uma senhora de branco diz que está tudo bem com o meu coração
Estou bem, segura e preparada para a partida.
Dão-me tudo o que é necessário para começar
Ponho malas às costas, nas mãos, de forma a poder levar tudo;
tudo o que preciso, tudo o que não preciso,
tudo o que talvez nunca venha a precisar.
Com dificuldades em caminhar ouço um apito agudo.
Chegou a hora!
Subo para o comboio e procuro o meu lugar
Lentamente, o comboio começa a avançar
O que durante nove meses esperei, chegou agora
A viagem decorre normalmente.
Várias pessoas trazem-me comida, vestuário e educação
Trabalho para atingir o meu objectivo: chegar à última estação.
A carruagem começa a abanar violentamente
Não sei o que se passa, assustada tento não cair
Num movimento mais violento, a carruagem começa a rebolar
Obviamente estamos fora dos carris, e o comboio seguiu
A nossa carruagem por algum motivo saiu do lugar
soltando-se do resto do comboio e saindo do caminho.
Quando finalmente paramos, levanto a cabeça devagarinho.
Observo apenas medo, dor, destruição,
É legível o pânico em cada olhar.
Vejo que alguns deixando-se vencer, não conseguiram aguentar,
vejo que poucos sobreviveram a esta primeira frustração.
Levanto-me sem vontade de continuar.
Sei que estou ferida, mas não sei com que gravidade
Começo a abrir e fechar malas à procura de algo
Para que trouxe tanta coisa?? Tenho tudo e não tenho nada!
Encontro tudo menos o que preciso na realidade!
Quando estou farta e prestes a desistir,
vejo no fundo da minha mala uma Bíblia abandonada
Encontrei a chave, o mapa, a hipótese de prosseguir.
Levanto-me nos destroços, olho para a frente e tento sorrir
Vejo-me entre choro, gritos e corpos numa encruzilhada.
Quando consigo sair daquela maldita carruagem
vejo que chegou a altura de ser independente.
Engolindo o meu ego, pego em tudo e dou um passo em frente
Estou pronta para iniciar a próxima etapa da minha viagem.
Começo a avançar com dificuldade
devido ao peso da bagagem.
Custa, mas decido abdicar de parte
e avanço agora com menos peso, um pouco aliviada.
Continuo passo a passo, caminhando pela estrada
Uma estrada difícil e irregular
cheia de curvas apertadas que me cansam
e buracos que me fazem cair, vez após vez.
Observo a criança que sou, vejo a minha pequenez,
percebo que lábios manipuladores me enganam
e a bagagem que carrego mostra a minha insensatez.
O fardo é demasiado pesado!
Abandono tudo, guardo apenas a Bíblia
Agora, lendo, vejo-me reflectida em milhares de espelhos
Chego a Salmo37.5 e lembro-me do que tenho estudado
"ninguém chega tão alto como um cristão de joelhos!"
Sigo então, pela primeira vez realmente preparada
Não vou sozinha nesta viagem
Persistente ou com dúvidas, avanço para o meu alvo
O caminho é longo e o meu ego está em cacos
Tento levantar-me, mesmo estando esgotada
depois de tropeçar e cair nos buracos.
Como todos, percorro a estrada da vida.
Como poucos, tenho a chave para a percorrer.
Hei-de cair muitas vezes, hei-de ficar cansada
Hei-de levantar-me também, e continuar a caminhada.
Porém, não hei-de ser criancinha inocente
Cresci, aprendi, agora vivo consciente
Há buracos nesta estrada!

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

.direcção errada

 
Foto: Verónica de Sousa

Pisando a sinceridade
mostrava uma falsa inocência;
nem eu conhecia a verdade!
A Mentira era a minha cidade,
o Egoísmo, o meu mundo em decadência.
O meu lar de indecência
era a própria Desonestidade.
Achava que tudo estava certo
Achava que tinha razão
Não compreendia a confusão
Não fazia sentido estar tão perto
de toda esta destruição.
Não compreendia tanta frieza,
tinha o caminho totalmente escuro.
Tentei avançar.
Percebi com tristeza
que na minha frente tinha um muro
escondendo de mim o meu futuro,
tirando-me uma última réstia de beleza,
e impedindo-me de sonhar.
Já não sabia o que fazer.
Não conseguia ter paz.
De repente fez-se luz,
eu tinha que voltar atrás!
Nunca soubera recorrer
ao maravilhoso Guia que me conduz.
Parei um pouco e olhei para a estrada.
Passara anos a lutar e sofrer
percorrendo o caminho certo,
na direcção errada.

.passo em falso


Foto: Verónica de Sousa
O caminho é longo.
Verifico se tomei todas as precauções
para poder percorrê-lo sozinha.
O orgulho controla as minhas acções.
Não quero ouvir outras opiniões
só quero saber da minha.
Ajo em função de um orgulho cego
Quero sozinha combater esta batalha
e quero fazê-lo sem uma falha
para poder alimentar o meu ego.
Começo a minha caminhada
deixando o mapa para trás.
Sou uma presa fácil para qualquer predador.
Sem perceber como, sou apanhada
por algo cujo único desejo voraz
é ver-me desesperada,
agoniada pela dor.
O chão em chamas gela os meus pés
A pouca água que resta seca-me a garganta
Um passarinho à minha frente não voa nem canta
mas arrasta-se, chorando enquanto pergunta:
"Mas quem é que tu achas que és?!"
Percebo o mal que fiz
Prejudiquei toda a gente
Pensei que ia ser feliz
Com o plano que tinha em mente.
Mas Ele vem, o meu Guia,
e traz consigo o abençoado mapa
Não critica a minha rebeldia
Envolve-me na Sua doce capa
Perdoa-me, vendo o meu arrependimento
traz-me paz e alegria
no entanto, um aviso.
Começo a andar num passo mais lento
faço uma pausa que me alivia.
Não voltarei a esquecer-me do que preciso.
Olha para os meus pés, enquanto me descalço.
"Avança com ousadia;
no entanto, tem cuidado.
Tens um predador derrotado
à espera do teu próximo passo em falso."